sábado, 25 de setembro de 2010

Esclerose Múltipla - Parte 3

Hoje veremos o diagnóstico e a característica básica dessa doença, segundo o Dr. Dagoberto Callegaro, médico, coordenador do Ambulatório de Esclerose Múltipla do Hospital das Clínicas e professor de Neurologia da Universidade de São Paulo, entrevistado pelo Dr. Drauzio Varella.
Drauzio - Você recebe um paciente que teve, por exemplo, um formigamento numa das mãos ou num dos pés que durou 10 ou 15 dias e passou. Você o examina e não encontra nada que justifique essa crise. O que o faz suspeitar que seja um quadro de esclerose múltipla? Há algum exame que auxilie no diagnóstico?
Dagoberto - Do ponto de vista clínico, é muito difícil confirmar o diagnóstico de uma doença que pode desaparecer espontaneamente, pelo menos nos primeiros anos, sem o auxílio de exames subsidiários.
Além disso, alguns pacientes simulam sintomas para obter alguns ganhos que não ficam claros para o médico nas primeiras entrevistas.

Drauzio - Existem esses exames subsidiários para diagnóstico da esclerose múltipla nas fases iniciais da doença?
Dagoberto - Hoje, contamos com a ajuda da ressonância magnética, um exame que permite fazer o diagnóstico da doença quando aparecem os primeiros sintomas. Se nos reportarmos às décadas de 1970, 1980, a dificuldade era muito maior. Com o advento da ressonância magnética do neuro-eixo, ou seja, do cérebro e da medula espinhal, temos a possibilidade de separar aquilo que seriam queixas sem nenhuma função orgânica comprometida do que está realmente comprometido pela doença.

Drauzio - A esclerose múltipla começa a instalar-se por volta dos 20, 30 anos e é mais freqüente em alguns lugares do mundo e em certas populações. Isso faz supor que exista um agente infeccioso por trás da doença?
Dagoberto - Essa é uma questão polêmica. Há trabalhos em todas as linhas de pensamento. Há os epidemiológicos mostrando que a agressão repetida por algum fator ambiental (infeccioso, produtos tóxicos ou alimentares, etc.) vai determinar o aparecimento da doença, e há aqueles que demonstram ser a genética um fator muito importante para o aparecimento da esclerose múltipla.

Drauzio - Que tipo de fatores ambientais são esses?
Dagoberto - O mais importante é o fator infeccioso viral, porque os vírus têm a propriedade de modificar a estrutura antigênica de nossas células, ou seja, a estrutura que torna nossas células reconhecidas pelo sistema imunológico. Conseguimos viver porque contamos com esse sistema de defesa que nasce conosco e é capaz de reconhecer e não atacar as células do nosso organismo. Ele agride apenas o invasor externo - vírus, bactérias fungos, riquetsias, enfim , todo o agente vivo que queira hospedar-se dentro de nós e possa provocar doenças - e o invasor interno, ou seja, as células tumorais. Nosso sistema imunológico consegue diferenciar o que faz parte de nós daquilo que é externo e agressivo. Os vírus conseguem modificar certas propriedades de reconhecimento das células, seja no sistema imunológico, seja nas células do sistema nervoso central e com isso se inicia o processo de destruição. A esclerose múltipla é uma doença auto-imune, porque o sistema imunológico agride as estruturas do organismo que deveria defender.

Doença remitente-recorrenteDrauzio - Você disse que a esclerose múltipla é uma doença remitente-recorrente. Esses períodos de remissão e recorrência costumam durar quanto tempo?
Dagoberto - A característica básica da esclerose múltipla é a imprevisibilidade. Portanto, os sintomas podem ocorrer a qualquer momento. Existe aquilo que se chama de taxa anual da recidiva, isto é, de volta dos sintomas, que se baseia numa análise estatística de grandes populações de pacientes. Essa taxa indica que, na fase inicial da doença, a média é de um a um e meio surtos ou recidivas por ano. É lógico que há pacientes que recidivam depois de três, quatro ou cinco anos e aqueles que em menos de seis meses sofrem novo surto.

Drauzio - Isso quer dizer que a doença pode apresentar grau de maior ou menor agressividade.
Dagoberto - Exatamente. Isso vai depender da intensidade inflamatória do sistema nervoso central.

Fonte: http://www.drauziovarella.com.br/

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